2016/04/11

Maratona da Escrita - Atividade colaborativa de escrita criativa nas aulas de Português/3º Ciclo da Semana da Leitura

Charlotte era uma rapariga que vivia num manicómio e foi internada por ver espíritos.
O único amigo que tinha chamava-lhe Lottie e era pianista. E estava morto. Ethan Lambert tinha sido um brilhante músico enquanto vivo e agora toca para Lottie, mas só ela o pode ver e sentir.
Charlotte lamentava o facto de mais ninguém poder ouvi-lo e apreciar o seu dom.
Todas as tardes, depois do almoço, Charlotte encontrava-se com Ethan, o pianista, no seu quarto, só para o ouvir tocar enquanto pensava numa maneira de mostrar o talento do seu amigo ao mundo.
De vez em quando, para além da música, trocavam umas ideias. Charlotte insistia para que ele se revelasse. Mas Ethan não concordava e preferia manter o anonimato. Durante horas, sentava-se ao piano, junto à janela, e Lottie encantava-se com o bailado das teclas.
Até que um dia a enfermeira-estagiária Kim, curiosa, entrou no quarto para descobrir quem tocava tão bela melodia. Fez-se um silêncio repentino. Ethan, que temia que o seu segredo fosse desvendado, fazia sinais a Charlotte que, especada, olhava fixamente para a invasora.
- Que linda melodia! Porque paraste? Podes tocar mais um pouco?
Sem saber o que responder, Charlotte entrou em pânico e empurrou Kim agressivamente. Esta bateu com a cabeça no canto da cómoda e caiu desmaiada no chão.
Há muito farta daquele sítio, Charlotte aproveita a oportunidade para fugir, trocando de roupa com a enfermeira desmaiada. Disfarçada e com o cartão de identificação bem à vista, Charlotte inicia a sua fuga, atravessando os corredores do hospício, sem deixar de pensar no seu objetivo: chegar ao cemitério, onde encontrará o túmulo do seu amigo.
No corredor do segundo andar, Charlotte deparou-se com uma porta trancada.
Vendo-se sem saída, vê lá atrás um segurança que se aproxima. É nesse momento que o seu amigo empurra uma maca abandonada que faz cair o segurança desmaiado no chão. Então, Ethan aproveita para tirar a chave-mestra do bolso do homem. Continuam os dois a sua fuga até à receção.
Aí, Lottie utiliza o cartão para abrir a porta, enquanto ouve o seu nome no alerta que é gritado nos altifalantes.
No jardim, uma mulher morena de cabelos longos e escuros, triste e solitária, atrasou a sua fuga, fazendo com que dois seguranças a alcançassem.
Graças aos seus conhecimentos de kung-fu, Charlotte enfrentou os seguranças, espetando-lhes nas pernas a tesoura que encontrou no bolso da bata roubada. A seguir, saltou com facilidade o muro largo. Na rua, encostada a uma árvore, encontrou uma bicicleta abandonada que usou para fugir dali. Mas estava tão velha e enferrujada que pouco depois, mesmo a meio da densa floresta, o pneu de trás furou. Já muito cansada, Charlotte só queria um abrigo para passar a noite.
Caminhou um pouco até encontrar uma casa abandonada.
- Não entres aí. – segredou-lhe Ethan.
Mas ela era teimosa. Não resistiu, até porque o cansaço era mais forte.
A jovem olhou em volta e nem queria acreditar no que estava a ver! De repente, Charlotte sentiu uma energia negativa e pensou para si mesma “devia ter seguido o conselho de Ethan“.
A casa era sombria e cheirava a mofo. Charlotte tateou as paredes húmidas e rugosas na esperança de encontrar um interruptor. Quando finalmente apalpou um retângulo saliente, pressionou-o, caiu num buraco e foi parar a uma divisão que parecia uma sala de jantar.
A mesa estava posta para duas pessoas, decorada com velas e uma rosa vermelha.
Nas paredes, vislumbrou vários quadros. Olhando mais atentamente percebeu que todos eram retratos da mesma mulher. Estaria a mesa posta para essa mulher misteriosa? E para quem seria o outro prato? Pressentiu que não estava sozinha, voltou-se e viu um homem sentado numa das cadeiras.
- Só agora?! Há muito tempo que estou à tua espera. Senta-te, vamos conversar.
Charlotte, assustada, obedeceu. A medo perguntou:
- Quem és tu?
- Ninguém! Há muito tempo que não caminho neste mundo.
- E por que sinto uma “energia tão negativa”, que emana de ti?
- A minha família foi massacrada e durante muito tempo procurei o assassino. Porém, ele matou-me e lançou-me uma maldição.
- Maldição? Que maldição?
- Pareces cansada e com fome. Porque não comemos primeiro?
- Não me ias contar sobre uma maldição? Fala-me sobre…
Charlotte calara-se porque a seu lado começaram a surgir várias travessas suspensas no ar.
- Acorda, Charlotte!- gritou a professora de História.
A jovem acordou assustada e sem saber onde estava.
Os olhos não queriam obedecer-lhe e teimavam em fechar-se.
Charlotte, unicamente, ouvia as risadas dos colegas, mas até esse som se esvanecia de forma lenta e contínua…
O corpo de Charlotte estava completamente imóvel, o único sentido que estava desperto era a audição, mesmo esse estava fragilizado. Ouvia, somente, o som melodioso que saía das teclas do piano do seu amigo Ethan.
Porque continuaria ela a ouvir aquela melodia de Ethan? Porquê aquele sonho? Tantas perguntas sem resposta passaram pela sua cabeça. A pouco e pouco, sem dar conta, foi caminhando até à sala de música, onde se deparou com as teclas do piano, onde estava delicadamente poisada uma rosa vermelha, a moverem-se sozinhas.
Por toda a escola ecoaram os gritos de pavor que saíram da pobre Charlotte, o seu corpo caiu inanimado.
Todos os anos, no dia do seu aniversário, aparecia uma rosa vermelha na sua campa e ouvia-se uma suave e bela melodia.

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